O governo
moderno não é senão um comitê para gerir os negócios comuns de toda a classe
burguesa.
[...] Todos
os laços que prendiam o homem feudal a seus “superiores naturais” ela (a
burguesia) os despedaçou sem piedade, para só deixar subsistir, de homem para
homem, o laço do frio interesse, as duras exigências do “pagamento à vista”.
Afogou os favores sagrados do êxtase religioso, do entusiasmo cavalheiresco, do
sentimentalismo pequeno-burguês nas águas geladas do cálculo egoísta. Fez da
dignidade pessoal um simples valor de troca; substituiu as numerosas
liberdades, conquistadas com tanto esforço, pela única e implacável liberdade
de comércio. Em uma palavra, em lugar da exploração velada por ilusões
religiosas e políticas, a burguesia colocou uma exploração aberta, cínica,
direta e brutal.
[...] A
Burguesia rasgou o véu de sentimentalismo que envolvia as relações da família e
reduziu-as a simples relações monetárias.
(MARX,
Karl; ENGELS, Friedrich – Manifesto do Partido Comunista)
Antes de tudo, gostaria de
dizer que já li e reli muitas vezes esse trecho pra entender e criar uma
opinião sobre ele, muitas coisas passaram pela minha cabeça, entretanto, caso
alguém leia e ache que Marx foi um tanto radical (como eu pensei na primeira
vez que eu li) peço que releia também. O objetivo desse post é mostrar o
entendimento que tive acerca desse trecho, e como, pelo menos pra mim, a
critica fez sentido.
O Manifesto do Partido
Comunista foi escrito primeiramente em 1848, contudo, é incrível como algumas
críticas são atuais. O primeiro paragrafo diz respeito ao governo direcionado
exclusivamente aos interesses burgueses, creio que isso seja um tanto
generalizado, entretanto, se pararmos pra pensar, um governo que muda sua
política com relação às tendências econômicas mundiais (como o keynnesianismo
ou o liberalismo, por exemplo) é no mínimo diretamente ligada aos interesses dos
grandes capitalistas.
Além disso, os termos como frio interesse, as duras exigências do “pagamento
à vista”, as águas geladas do cálculo egoísta, entre outros, por mais “radicais”
que sejam não fogem muito da realidade. Só acho que em uma sociedade que preza
primeiramente pela propriedade privada ao bem estar de uma população inteira, é
sim uma sociedade imersa em águas geladas do cálculo egoísta. Exemplos disso
são facilmente encontrados, como o MST (Movimento dos Trabalhadores Sem-Terra),
que não podem ter um local pra morar e trabalhar, pois vivemos em uma sociedade
que preza primeiramente os interesses dos grandes latifundiários.
Com relação à religião, citado
no trecho, o capitalismo também a reduziu segundo seus interesses, a ciência
não deixa de ser religião pra mim (Desculpem, todos aqueles cálculos
estrondosos expressam única e exclusivamente a realidade, só eu que não consigo
ver).
E deixei o ultimo paragrafo do trecho por
ultimo de propósito, pois foi o que mais me intrigou. Muitos podem ver e
demonizar o manifesto por essas criticas, a família é sagrada. Claro, concordo
com isso também, mas a sociedade como um todo acaba caindo em uma questão de
hipocrisia, por mais exagerado que seja “as
relações da família e reduziu-as a simples relações monetárias”, na hora em
que o chefe de família declara os filhos como dependente, seja para impostos ou
para outros fins financeiros, ninguém percebe as relações monetárias; quando
pesquisadores divulgam estudos mostrando o quanto custa um filho atualmente,
não não, a família não esta sendo reduzida a relações monetárias.
Claro, muitos não concordaram
com esse post, e nem peço que concordem também, o ponto principal aqui é a
forma de como a sociedade atual é vista, o fato de eu ter escolhido um texto do
Marx, não tem relação direta com o comunismo, mas sim a critica que ele faz ao
capitalismo, crítica que eu partilho também. Apenas pretendo com isso repensar
a sociedade em que vivemos.
Nenhum comentário:
Postar um comentário